Coisinhas do Luizinho
Laércio José Pacola - 2017
SUMÁRIO
COISINHA DO PAI .......................................................................... 6
HOMENAGEM AO LUIZINHO .................................................... 6
IDENTIFICAÇÃO ............................................................................ 8
IRMÃOS DO LUIZ ........................................................................... 8
SERVIÇO MILITAR ........................................................................ 9
ESTUDO ............................................................................................. 9
RELIGIÃO ......................................................................................... 9
APOSENTADORIA ......................................................................... 9
ACIDENTE ...................................................................................... 10
ATIVIDADES AGRÍCOLAS ........................................................ 10
REPRESENTAÇÕES ..................................................................... 11
ATIVIDADE EXERCIDAS ........................................................... 11
ATIVIDADES ESPORTIVAS ...................................................... 12
FAZENDA CACOEIRINHA ......................................................... 12
VENDA DA FAZENJDA .............................................................. 12
"GRANJA DO LUIZ" ..................................................................... 13
QUEM FOI MORAR NA GRANJA? .......................................... 14
A GRANJA E A SAÚDE ............................................................... 14
LUIZ CAÇADOR ............................................................................ 14
ROUBO DE GALINHAS ............................................................... 15
MOINHO DE FUBÁ ....................................................................... 16
LIMÃO DOCE ................................................................................. 16
O CACAUEIRO .............................................................................. 17
PRIMEIRO CARRO ....................................................................... 18
PRIMEIRO EMPREGO ................................................................. 18
BAR CENTRAL .............................................................................. 18
O PADRE SALUSTIO.................................................................... 19
MERCEARIA DO LUIZ ................................................................ 20
A SUA MULHER DÉLIA .............................................................. 20
MORTE DO SEU PAI .................................................................... 22
RELACIONAMENTO COM A DÉLIA ...................................... 22
DOM DO LUIZ ................................................................................ 23
PIADINHAS DO LUIZ .................................................................. 23
FESTA DOS 80 ANOS ................................................................... 26
FALECIMENTO ............................................................................. 27
FINAL ............................................................................................... 27
5
INTRODUÇÃO
O porquê do nome do livro "Coisinhas do Luizinho". O
Luiz diante de algum fato importante, na saúde, na política, na segurança,
comentava e dizia ainda nós vamos ter muita coisinha.
Muito conhecido pelos seus amigos como Luizinho.
A expressão "coisinha" era usada por ele num sentido aumentativo,
com preocupação para o dia de amanhã. Já de idade ficava
escandalizado e preocupado com as manchetes dos mais variados
assuntos.
O livro "Coisinhas do Luizinho" descreve a sua vida, procurando
render uma justa homenagem. O livro conta algumas passagens
interessantes e importantes da vida de um homem trabalhador,
brincalhão e amante da natureza.
Os fatos de sua vida foram descritos segundo as lembranças
do autor e com base em alguns documentos.
LajoPa - 2017
6
COISINHA DO PAI
Tomo aqui a liberdade de modificar um pouco a canção
composta por Jorge Aragão, Almir Guineto e Luiz Carlos "Coisinha
do Pai", para homenagear o nosso querido pai Luiz.
Oh Coisinha tão bonitinha do nosso pai
Oh Coisinha tão bonitinha do nosso pai
Oh Coisinha tão bonitinha do nosso pai
Oh Coisinha tão bonitinha do nosso pai
Você vale ouro
Todo meu tesouro
Tão formoso da cabeça aos pés
Vou lhe amando
Lhe adorando
Digo mais uma vez
Agradeço a Deus porque lhe fez
São nos sufixos diminutivos que a descarga das emoções e
das intenções se dá com maior energia (Lapa, M. Rodrigues)
"O sufixo diminutivo é um meio estilístico que torna a linguagem
mais flexível e mais expressiva, refletindo os nossos sentimentos
e intenções pelas coisas e pelas pessoas".
HOMENAGEM AO LUIZINHO
"Muito benquisto e bem relacionado, sempre soube prezar
suas amizades e o trato com as pessoas, o que fez do Luizinho um
grande vendedor. Sua conversação era sempre entremeada de piadinhas
e pegadinhas, que a tornavam alegre e agradável. ÒTIMO
AMIGO". (Fonte de Horácio Moretto).
7
8
IDENTIFICAÇÃO
-Nome- Luiz Paccola Sobrinho (Luizinho)
-Naturalidade- Fazenda Cachoeirinha- Lençóis Paulista,SP
-Nascimento- 02-07-1908
-R.G.- 6.889.125 CIC- 012.767.948-00
- Avós- Giacomo Paccola e Luigia Scarparim chegaram da
Itália em 1842 com os filhos: José, Maria, João, Antonia, Luiz, Ana,
Elizabete e Antonio
-Pais- Antonio Paccola e Luiza Nozzela (Italianos), casaram
aqui no Brasil e tiveram os filhos: Ângelo, Jácomo, Augusto,
Luiz, José, Carolina e João. Com o falecimento do pai a mãe Luiza
(Nona) casou-se com o italiano José Bottan (tio Bepe) e tiveram um
filho o Vitório.
-Esposa- Délia Pavanato filha dos italianos Segundo Ângelo
Pavanato e Joana Jolla.
-Data do Casamento- 25/05/1932
-Filhos- Claudette Lelina, casada com Carlos Frischkorn Júnior
Neta- Renata
-Édson Luiz, casado com Mirian Cacciolari
Netos- Camila, Gustavo, Guilherme, Lucila, Luciana, Carina
e Júnior
-Laércio José, casado com Ângela Mara Z.Pereira de Araújo
Netos- André, Raquel e José
IRMÃOS DO LUIZ
Filhos do casal Antonio e Luiza
Ângelo Primo- 07/04/1903- 04/05/1980
Jacomo Nicolau- 21/01/1905- 17/12/1978
Augusto Luiz- 11/09/1906- 02/05/1973
Luiz Sobrinho- 02/07/1908- 27/07/1996
José Sobrinho- 09/08/1910- 26/10/1989
Antonia Carolina- 1406/1912- 04/07/2004
9
João Primo- 06/05/1914- 11/11/2002
SERVIÇO MILITAR
Em 04/07/1942, em Bauru, pela 2ª. RM, 6ª. C.R. do Exército
Nacional, obteve Certificado de Reservista de 3a. Categoria,
n° 603609.
Título de eleitor- Em 30/12/1920- nº 690289.
ESTUDO
A sua alfabetização foi precária, pois estudou até o terceiro
ano, aprendendo o suficiente para ler e escrever, tendo facilidade
em contas. Na escola, durante o recreio, trocava coquinho e jatobá
por lanche com as crianças da cidade.
No período de 26 a 28 de junho de 1975 fez um curso de
Administração de Pessoal, realizado em Lençóis Paulista, pela Secretaria
do Trabalho, recebendo um certificado que guardava com
muito orgulho.
RELIGIÃO
Pertenceu à Religião Católica e participava dos eventos na
Paróquia de N.S. da Piedade. Participou da inauguração da Capela
de Santo Antônio, do Corvo Branco, 13/06/1945. Aos domingos ia
à missa, ao sair de casa já separava uns trocados para oferenda,
sentava no último banco.
APOSENTADORIA
Aposentado pelo INSS, Delegacia de São Paulo, Agência
de Botucatu- processo AG 1425/66, D 33.514/67, por tempo de
10
serviço, aos 28/04/1967, quando Gerente da Cooperativa de Consumo
da Zona de Lençóis Paulista.
ACIDENTE
Na fazenda, como toda criança, ajudava os pais nos trabalhos
da roça: colher café, cortar cana para o engenho de pinga, etc.
Ainda como criança sofreu um acidente grave. Na tulha um
saco de mantimento caiu em sua perna, ocasionando uma fratura
grave no osso da canela. Foi levado à cidade para os precários tratamentos
da época. Uma infecção quase levou-o a uma amputação
e por um Milagre a ferida cicatrizou. A cicatriz era extensa, tomava
toda a sua canela. Aquela sequela era uma recordação péssima, não
gostava de expor a perna para outras pessoas.
ATIVIDADES AGRÍCOLAS
- Coproprietário da Fazenda Santo Antônio (Cachoeirinha)
com seus irmãos Ângelo Paccola Primo & Irmãos. Aguardente de
Cana, Café, Gado e Serraria.
- Proprietário do sítio "Granja do Luiz", área de 7,2ha, no
Bairro da Prata- Gado de Leite, Avicultura, Suinocultura, Café,
Cana, Hortifruticultura. Registrada sob nº 123/17) livro 76 fl. 204)
em 10/10/1956, no Serviço de Estatística e Produção do Ministério
d agricultura (Registro de Lavradores e Criadores). Secretaria da
agricultura SP, sob nº6.340, 03/07/1937.
-Sócio da firma comercial "Paccola, Moretto & Cia. Ltda",
fundada em 1944, Pinga.
-Sócio da firma comercial "Paccola & Cia. Ltda.- Bebidas
em São Paulo.
-Foi sócio da firma comercial Paccola, Trecenti & Cia, de
16/03/1945 a 20/01/1949 (Bar Central), registro na J.C. sob nº
93843.
11
-Foi sócio da firma comercial J.Paccola & Irmão, Bar Central,
20/01/1940 a 31/12/1951 (Contrato reg. Na J.C. ESP Nº
110626.
-Foi titular da firma Luiz Paccola Sobrinho, de 16/04/1952
a 10/01/1957, com Mercearia do Luiz, À Rua 15 de Novembro,433,
Fone 129, cx.p. 101, Lençóis Paulista.
-Exerceu compra e venda de aguardente de cana, em 1958.
-Proprietário da "Chacrinha do Luiz, área de 1000m², Bairro
da Igreja de São Benedito, Hortifruticultura.
-Chefe de Reflorestamento, Praças e Jardins, da Prefeitura
Municipal de Lençóis Paulista.
-Foi proprietário de um terreno urbano na cidade de Bauru,
à Rua Tavares, J. Brasil, (1961).
-Fundador do Horto Florestal Municipal- Produção de plantas
para arborização da cidade.
-Produtor de plantas ornamentais e frutíferas em sua casa.
- Foi sócio n°12 da Associação Rural de Lençóis Paulista.
REPRESENTAÇÕES
-Representante vendedor dos Adubos "Manah" S/A.
-Foi Agente da Sul América Capitalização.
-Foi representante da Dun Bradstreet Limitada, de Serviço
Comerciais de cadastro- São Paulo.
ATIVIDADE EXERCIDAS
-1908-1923- Fazenda Cachoeirinha- Serviços gerais da
roça.
-1923-1945- Casa Paccola- Serviço de balconista (caixeiro).
-1945-1951- Bar Central- Proprietário.
-1952-1957- Mercearia do Luiz- Proprietário.
-1958-1966- Cooperativa de Cana- Gerente comercial.
12
-1967-1978- Prefeitura Municipal- Encarregado de parques
e jardins.
ATIVIDADES ESPORTIVAS
Praticou caça e pesca, com carteira de licença nº 9309 de
1944, DPA.
Alvará de Licença de Porte de Arma de Caça e Esporte nº
3303, da Secretaria de Segurança Pública de SP.
Sócio permanente do Tiro ao Voo Lençoense (CTVL), sob
n°005,26/10/1938.
Sócio Fundador do Clube de Caça e Pesca "Pouso Alegre"
(Lençóis/Macatuba), ação n° 032, 15/05/1957.
Sócio Contribuinte n° 50 do Ubirama Tênis Clube.
Sócio Proprietário, ação n°29, do Clube Esportivo Marimbondo,
15/10/1960.
Integrante da equipe de bocha de Lençóis Paulista.
Colaborou como cozinheiro nos Jogos Regionais de Assis
(1965), Ourinhos(1966) e Presidente Prudente (1967).
FAZENDA CACOEIRINHA
A Fazenda Cachoeirinha era de propriedade de Antonio Paccola,
pai do Luiz, adquirida em 1906. A área total era de 240 hectares.
Antonio casou com Luiza e tiveram sete filhos. O Luiz,
quarto filho, nasceu em 02/07/1908.
O Luiz morou na fazenda até os 15 anos, indo trabalhar na
Casa Paccola. Casou com Délia em 25/05/1932. Trabalhou em serviços
gerais da roça, até 1923.
VENDA DA FAZENJDA
Como era hábito das famílias antigas, com a morte do pai, a
fazenda Santo Antonio (Cachoeirinha) foi sendo administrada pelo
13
irmão mais velho, o Ângelo. Os irmãos foram casando, os filhos
nascendo e o dinheiro ficando curto, a alternativa foi fazer um
acerto com Ângelo e mudarem para a cidade.
O Luiz recebeu um cheque do seu irmão Ângelo, relativo à
sua parte, que na verdade nunca foi descontado. Ele concordou com
a venda na condição de reservar uma área de terra, mais próxima da
cidade (Bairro da Prata), para poder plantar e criar animais (Granja
do Luiz).
A Granja fazia divisa com a Cachoeirinha (do seu irmão Ângelo
Paccola), Santim Paccola (primo, engenho de pinga), aos fundos
com o rio da Prata (seu tio Luiz) e com o seu irmão José
(Bepim) que também ficou com uma boa área de terra.
"GRANJA DO LUIZ"
Além de comerciante tinha uma paixão incomum pelas plantas.
Em sua chácara, no Bairro da Prata, plantava de forma contínua
todo tipo de planta. O seu pomar tinha todo tipo de fruta. Ele tinha
uma habilidade muito boa para plantar e fazer enxertos em roseiras,
videiras e árvores frutíferas.
Em um limoeiro enxertou um galho com lima, metade era
doce e a outra azeda. Brincava com as pessoas chupando limão doce
com prazer e oferecia o azedo às pessoas que não se conformavam
de ver o Luizinho chupar tantos limões com muita avidez e sem
fazer careta.
Na chácara resolveu criar galinha caipira para vender frangos
e ovos. Para tanto cercou com bambu e tela de arame uma área
de 1000m² e no centro construiu um galinheiro de alvenaria, segundo
planta fornecida pela Secretaria da Agricultura. A pessoa encarregada
de cuidar das galinhas era sua cunhada (Tia Luiza) que
morava na chácara.
14
QUEM FOI MORAR NA GRANJA?
Ele precisava de uma família para morar na chácara e calhou
que o seu cunhado Uris (pedreiro) casado com Luiza, tendo problemas
na cidade, foi convidado para morar na Granja.
O seu sogro (Segundo Ângelo Pavanato), já de idade também,
foi morar na Prata. A casa inicial era de pau a pique e depois
foi construída uma boa casa com orientação de sua mulher Délia
que tinha dons herdados de seu pai construtor.
A GRANJA E A SAÚDE
Ele ia quase todo dia à chácara, uns três quilômetros, e trazia
leite, ovos, verdura, mandioca, abobrinha e frutas. No tempo antigo
não se dava valor para os alimentos produzidos na chácara e muito
menos para o exercício da caminhada. O Segundo Pavanato, seu
sogro, também vinha até a cidade e sempre trazia alguma coisa da
roça. Ele viveu mais de 90 anos, sem saber que a sua saúde em parte
era devida àquela atividade.
LUIZ PESCADOR
O Luiz tinha um bote no rio Tiete, ia sempre pescar. Trazia
muito peixe jaú, mandiuva, jurupoca, pintado, etc. Todo ano era
convidado para ir pescar por este mundo afora. O grupo era composto
pelos seus amigos que faziam questão que ele fosse, não tinha
despesa. O seu espírito brincalhão e a sua disposição para qualquer
serviço era o que bastava para fazer parte do grupo.
LUIZ CAÇADOR
Uma outra paixão que o Luiz tinha era a de caçar. Com uma
espingarda belga, calibre 36 ia caçar nambus com frequência.
15
Uma barraca foi construída às margens do Rio Turvinho, nas
terras dos Barros. O local foi gentilmente cedido pelos proprietários.
Ali se reuniam mensalmente um grupo de pessoas. Aos sábados
iam para lá e ficavam até domingo. A barraca era confortável,
tinha cozinha, churrasqueira e um espaço para as camas de tatu.
Eles tinham autorização do fazendeiro para caçar e abater
um único veado campeiro. A fazenda era muito grande, formada de
invernadas nativas. Nos campos existiam manadas de veados. O
Luiz era o caçador, tinha uma winchester, calibre 22, de 16 tiros de
balas curtas.
De caminhonete percorriam os campos. Ao encontrarem os
veados o Luiz ia com uma capa vermelha, agachado até relativamente
perto dos animais e atirava. Com muita precisão abatia um
veado. A carne era dividida entre as pessoas.
AS ARMAS DO LUIZ
O Luiz tinha duas armas para caça:
Uma espingarda, dois canos, belga, calibre 36, marca ELG
Belga, para caça de aves como nambu, pedis e pombas.
Uma arma de fogo do tipo semiautomática , calibre 22, de
repetição, marca ELG Belga, para a caça de veados.
Um revólver, calibre 38, marca Smith & Wesson, número
de série 350380, de procedência USA.
As referidas armas estão de posse do Laércio, adquiridas por
herança e estão devidamente registradas.
ROUBO DE GALINHAS
Na granja do Luiz tinha um cachorro vira-lata, chamado
dog, de porte médio muito bom de guarda não deixava ninguém se
aproximar do galinheiro. Um dia o cachorro amanheceu morto, com
sintomas de envenenamento.
16
Na noite do dia seguinte uma surpresa: haviam roubado muitos
frangos. Passado algum tempo descobriu-se que em um bar da
cidade faziam galinhadas todos os fins de semana e que os frangos
eram do Luizinho e de seu sobrinho Flávio.
O Flavio não deixou por menos processou os envolvidos e o
caso foi parar com o juiz, muita gente conhecida estava envolvida,
inclusive professores.
MOINHO DE FUBÁ
O Luizinho, na tentativa de ter uma fonte de renda na chácara,
resolveu montar um moinho de fubá. Para tanto havia necessidade
de fazer um rego d`água (canal) para tocar uma roda que iria
mover as pedras mós.
Ele solicitou ao tio Bepe (homem que sabia de tudo), para
marcar o local exato para a captação da água e esta descer por declividade
até a roda d´água. O rego foi construído mas a água não
queria fluir. O tio Bepe foi ver o que estava acontecendo e mandou
que se fizesse uma pequena barragem no local da captação. Muita
pedra foi colocada, o nível da água subiu e o rego começou a funcionar.
Um problema, um vizinho embargou a barragem reclamando
que a água havia invadido as suas terras (10 metros). Uma
ignorância muito grande, pois ele também poderia se beneficiar da
pequena barragem.
Com muita raiva mandou retirar as pedras e o sonho do moinho
foi por água abaixo.
LIMÃO DOCE
Além de comerciante tinha uma paixão incomum pelas plantas.
Em sua chácara, no Bairro da Prata, plantava de forma contínua
todo tipo de planta.
17
O seu pomar era diversificado com muitas variedades de frutas.
Ele tinha uma habilidade muito boa para plantar e fazer enxertos
em roseiras, videiras e árvores frutíferas.
Em um limoeiro enxertou um galho com lima, metade era
doce e a outra azeda. Brincava com as pessoas chupando limão doce
com prazer e oferecia o azedo às pessoas que não se conformavam
de ver o Luizinho chupar tantos limões com muita avidez e sem
fazer careta.
O CACAUEIRO
No jardim plantou um cacaueiro. Em dois momentos a Délia
escreve sobre o sentimento que ele tinha pelo pé de cacau: "Enquanto
estivemos em São Paulo, limparam o pé de cacau. Luiz não
se conforma".
O cacaueiro era o carro chefe, amava a planta que era exuberante
e produzia muitos frutos dos quais tirava as sementes para
plantar. Todas as mudas eram vendidas de imediato, não havia o
que chegasse.
"Está novamente plantando tanta coisa. É só para distrair.
Lucro que é bom, não dá nada". "Luís anda chateado com a morte
do pé de cacau".
Ainda sobre a importância do cacaueiro para o Luiz: O jornal
de Lençóis trouxe uma reportagem com fotografia dele com os
dizeres: "Também produzimos cacau, sim senhor".
Fica claro como vô Luiz era apaixonado pelas plantas.
No jardim de sua casa tinha um viveiro de mudas de plantas
que era o seu passatempo predileto, sendo incentivado pela sua mulher
Delia, que sabia o quanto era importante aquela atividade para
a sua saúde física e mental.
18
PRIMEIRO CARRO
Como sonho de ter um carro era grande, vendeu as terras e
comprou um Ford Cupê, ano 1941, do Sr. Helco Carani. O carro era
uma joia, até as porcas do motor eram niqueladas.
Posteriormente foi contemplado, por sorteio, com um Fusca
em um consórcio da "Bauruapis", em março de 1968.
O último carro que ele teve foi uma Variant, ano 1973.
PRIMEIRO EMPREGO
Na roça, com poucas perspectivas de um futuro bom, resolveu
trabalhar na cidade. O seu tio Luiz, proprietário da Casa Paccola,
deu-lhe um emprego de balconista (caixeiro). A loja tinha de
tudo e as famílias faziam compra mensal. O Luizinho era o preferido
pelos fregueses, sabia como trata-los. Morava em um quartinho
nos fundos da loja. Nesta fase da vida desenvolveu o dom de comerciante.
O seu dom de comerciante era extraordinário e exercido de
forma incondicional. Todos conheciam o Luizinho pelo seu jeito
brincalhão- cativava e fazia amizade com facilidade. Contava piadas
e passava pegadinhas mesmo para pessoas estranhas. Tinha um
carinho especial para com as crianças, especialmente parentes e netos.
BAR CENTRAL
No período de 1945 a 1951 foi proprietário do Bar Central,
rua XV de Novembro, em sociedade com seu irmão Jácomo.
A sua família morou por um curto período nos fundos do
bar. Ele estava construindo a casa na rua Gerando de Barros com
Ignácio Anselmo.
19
O bar era um dos principais de Lençóis. Era uma espécie de
rodoviária, ali paravam os ônibus do "Expresso de Prata", que faziam
o trecho entre Bauru e Botucatu.
As atividades do bar: Para casamentos tinha duas áreas reservadas.
Geralmente eram famílias da zona rural. Servindo pão
com mortadela ou sardinha acebolada mais bebidas. Quem pagava
as despesas era o padrinho da noiva.
Nas épocas de eleições os candidatos davam vales aos eleitores
para serem descontados no bar, para comerem e beberem. No
final da tarde um vidrão estava cheio de vales que posteriormente
os candidatos pagavam.
No fim do mês a cidade recebia um grande número de pessoas
da zona rural. Elas vinham de caminhões para fazerem compras,
assim o bar aumentava muito seu movimento.
No bar funcionavam: duas mesas de bilhar, campo de bocha,
sorveteria e doceria. Os sorvetes eram feitos de frutas da época
como cajuzinho do serrado, limão galego, abacaxi, coco branco e
queimado. Os doces: queijadinha, pudim, suspiro, bomba, cocadas,
batata doce, etc. O confeiteiro era o Sr. Adolfo Biral, muito competente.
O PADRE SALUSTIO
O Padre Salústio Rodrigues Machado foi pároco de Lençóis
de 1939 a 1955, quando faleceu. Por 16 anos, ele teve grande influência
em todos os setores da nossa cidade.
Ele tinha por hábito, quase toda tarde, ir ao Bar Central e
tomar uma cerveja antártica. Entrava em dos reservados e tomava a
sua cervejinha. O copo deveria estar rigorosamente limpo, fazia
questão.
Eu servi algumas vezes ao padre.
Além disto fumava charuto Havana, sempre dado pelo Luiz.
Nas festas religiosas gostava de soltar rojões e acendia com o charuto.
Ele era de uma personalidade marcante, amigo de todos e fazia
as suas pregações com muita eloquência.
20
MERCEARIA DO LUIZ
Após vender o Bar Central resolveu abrir uma mercearia.
Para tanto alugou um salão na rua XV de Novembro, de propriedade
de Lídio Bosi. Encomendou prateleiras de cano niquelados para
latarias, vinhos e bolachas. Arroz, feijão, açúcar, fubá, ficavam em
recipientes de madeira com tampa. Tudo era vendido a granel por
quilo. Em uma outra prateleira ficavam: macarrão, sardinha salgada,
arenque e bacalhau. Em um varal ficavam pendurados salame,
linguiça defumada e calabresa e mortadela. Um balcão tipo geladeira
ficavam: frutas, linguiças, camarão fresco e queijos. Um ouro
balcão ficavam: doces, balas, chocolates, etc.
A mercearia era muito surtida e logo pegou uma boa freguesia.
Vendia para alguns no sistema caderneta.
As compras eram feitas através de vendedores que passavam
todo mês para repor o que estava faltando. O camarão vinha de
Bauru, no gelo e de ônibus, quase toda semana, vendia tudo sob
encomenda.
Vez ou outra o Luiz ia a São Paulo no Mercadão Municipal,
lá comprava bacalhau Norueguês, arenque, linguiças defumadas e
calabresa e manjuba.
Tinha uma freguesia de primeira, ganhou um bom dinheiro,
construindo a sua nova casa na Rua Ignácio Anselmo,296.
A SUA MULHER DÉLIA
Através dos bilhetes recebidos pelo autor, da sua mãe Délia,
são descritas algumas situações vividas pelos dois, em forma de
"poesias". Fonte- "Os Bilhetes da Délia" LaJoPa, 2017.
ANIVERSÁRIO DO LUIZINHO
Estou querendo fazer um bolinho
Aniversário do Luizinho
Ele só olha na folhinha
21
O LUIZ CAIU
Hoje de manhã luís caiu no canto
Ficou branco que me deu medo
Derrubou a cadeira foi um espanto
LUIZ PRECISA MUITO DE MIM
Luís precisa muito de conselho
Dá muito trabalho
Tenho medo que ele fique falho
ELE NÃO QUER SAIR
Só si pegar de surpresa
Vamos experimentar
Si não der certo é uma tristeza
VITAMINAS DO LUIZ
Por enquanto as vitaminas
Que o Luís está tomando
Não dá para notar nada
Quem sabe com o tempo
Ele me deixa muito nervosa
LIMPARAM O PÉ DE CACAU
Limparam o pé de cacau
Luís não se conforma
Esta novamente plantando
É só para distrair
Lucro que é bom, não dá nada
COCEIRA DO LUIZ
O João quer ir em Santa Barbara
Nós iremos ele convidou
Vai ser bom para o meu joelho
E a coceira do luís
ME AJUDA UM POUCO MAIS DA TRABALHO
22
O Luiz me ajuda quando mando
Não tem cabeça para nada
Tenho cabeça vou lembrando
Ele vai fazendo e eu dou uma olhada
MORTE DO SEU PAI
O Luizinho tinha 10 anos quando seu pai Antonio morreu.
Ele sempre contava que seu pai contraiu a febre espanhola (1918).
Com muita febre, delirando, saiu de casa a cavalo, em baixo de
chuva, dizendo que ladrões estavam roubando suas plantações,
vindo a falecer aos 36 anos de idade.
Quando o assunto da morte do pai era lembrado recordava
que seu pai foi velado em casa e os filhos menores não podiam sair
do quarto, sua mãe Luiza tinha medo que as crianças contraíssem a
febre amarela. Desta forma ficavam olhando o pai morto pela fresta
da porta.
RELACIONAMENTO COM A DÉLIA
Como viviam. Uma observação: Um dependia do outro. O
Luís tinha uma boa saúde física, mas a sua "cabeça fraca" não ajudava.
A Délia tinha uma "cabeça boa" mas fisicamente tinha problemas.
Assim desta forma um ajudava o outro.
Relacionamento. Um comentário sobre o relacionamento
dos dois: Muita gente achava que o Luís dependia em tudo da Délia.
Eu sempre achei ao contrário que a Délia precisava mais do Luís do
este dela. Somente após o agravamento da doença do Luís (Alzheimer)
que ficou complicado para a Délia.
O Luís era uma pessoa de temperamento bondoso, sempre
contando piadinhas próprias dele. A Délia era mais preocupada com
tudo, como pode-se observar pelos bilhetes.
A sua rotina de vida se resumia em fazer pequenas compras
ou ir ao banco receber a aposentadoria sua e da mulher. A senilidade
23
gradativamente ia atingindo o seu cérebro, os neurônios sofriam
uma degeneração.
DOM DO LUIZ
O seu dom de comerciante era extraordinário e exercido de
forma incondicional. Todos conheciam o Luizinho pelo seu jeito
brincalhão- cativava e fazia amizade com facilidade.
Contava piadas e passava pegadinhas mesmo para pessoas
estranhas. Tinha um carinho especial para com as crianças, especialmente
parentes e netos.
PIADINHAS DO LUIZ
Como já dissemos o seu diálogo com as pessoas era entremeado
de piadinhas e pegadinhas. Muito difícil relembrar, a seguir
algumas contadas por ele.
Caipirinha do Luizinho
Sem açúcar, sem gelo e sem limão.
Fogão a pilha
-Já existe?
- Sim, duas pilhas de lenha uma de cada lado do fogão, diz
o Luís.
Engenheiro
- Eu sou engenheiro, dizia o Luís.
- Trabalhei no engenho de pinga.
Aqui em Lençóis não chove, só pinga.
24
Primeiro aluno
- Meu filho é o primeiro aluno da classe, diz o Luís.
- Ele senta na primeira carteira, dizia o Luís
Pinguinha ao amigo
O amigo bebe, engasga e tose.
- Não gostou, diz o Luís.
- Tá um pouco forte, mas tá boa, diz o amigo.
O Luís, sem querer, pegou o litro de álcool 92º, no lugar da pinga.
-Esta noite eu dormi de joelhos. Diz o Luís
-O que aconteceu Luís? A pessoa pergunta.
-Para dormir não dá para tirar os joelhos. Diz o Luís.
Um aviador caiu na calçada. Diz o Luís.
-Como foi?
-Escorregou em uma casca de banana.
Quem descobriu as costas da Índia?
O Luís pergunta?
- Você sabe quem descobriu a costa da Índia?
-A pessoa responde foi Vasco da Gama. Errado foi o índio, diz o
Luís.
Quando Luís tinha o Bar central
Uma pessoa estranha chega no interior do bar e pergunta:
- O ônibus que vai à Bauru para aqui?
-Aqui não lá fora. Diz o Luís.
A pessoa queria brigar com Luís.
Esta noite passei em claro, diz o Luís
- O que aconteceu Luizinho, diz a pessoa
- Esqueci a luz acesa, diz o Luís.
Guarda noturno
Um guarda noturno de nome Zé Luca passava no bar Central
toda noite.
25
-O Luís perguntava se ele queria tomar café
- Obrigado Luizinho, se tomar café eu não durmo.
No supermercado
Uma mulher leva o seu filhinho no carrinho do supermercado,
junto com as compras.
-Onde a senhora pegou esta coisinha? Diz o Luís. Eu vou
levar um.
A mulher nem respondeu.
Sobremesa uva
Após almoçar e tomar vinho. O luís Pergunta:
- Não vai fazer mal chupar uva eu tomei vinho?
Pegadinha da gata
O Luís pergunta a alguém?
-Você sabe como se tira leite da gata?
-A pessoa com espanto, mas é possível?
- Sim, é só tirar o pires que ela está bebendo o leite. Diz o
Luís.
A pessoa manda o Luís à merda.
"Certo dia Joaquim resolveu ligar para o açougue.
-alo o senhor tem oreia de porco diz Joaquim.
O açougueiro responde
-sim.
-se também tem nariz de porco
-sim
-se também tem focinho de porco.
-sim
-ooo meu o senhor e feio mesmo hein"
Um guarda quebrou uma costela, diz o Luís.
-Como foi? A pessoa pergunta.
Um vento forte, diz o Luís,
26
Virou o guarda-chuva no avesso, quebrou uma vareta.
Uma pessoa estava carregando um porco na costa.
-Você roubou este porco, diz o policial
-Qual porco? Pergunta o ladrão
-Este que está na sua costa, diz o policial
-Quem pois este bicho na minha costa, tira ele daí já.
Quando sobrava um pouquinho de comida, após o almoço.
A sua mulher Délia não jogava nada fora. Ela colocava
aquela sobra no prato do Luís e dizia:
-Pode comer que não engorda.
O Luís como era do seu costume não reclamar de nada, comia
com gosto.
Uma mulher comprou uma vassoura na mercearia do Luís
Ela pagou e foi embora, estava com pressa.
Atravessou a rua e estava um pouco longe,
O Luís a chamou.
Ela voltou, O Luís perguntou não quer que embrulhe a vassoura.
Conclusão o Luís perdeu uma freguesa.
FESTA DOS 80 ANOS
Com a idade avançada, 80 anos, a Délia fez uma grande festa
para comemorar a data, convidando parentes e amigos. Não tinha
mais condições de dirigir carro e foi parando, mas sempre ligava o
carro na garagem, sem dúvida foi um grande trauma em sua vida.
A sua rotina de vida se resumia em fazer pequenas compras
ou ir ao banco receber a aposentadoria sua e da mulher. A senilidade
gradativamente ia atingindo o seu cérebro, os neurônios sofriam
uma degeneração.
O casal Luiz / Délia se completavam. Um era dependente do
outro. A Délia tinha boa cabeça mas pouca saúde física e o Luiz
27
bom físico porém pouca memória. Alguns acham que sua mulher
era mandona, solicitava ao Luiz faça isso faça aquilo, mas na verdade
ela era mais dependente do que ele. Ele fazia tudo com bom
humor e brincando sempre, características natas.
FALECIMENTO
No mês de julho ambos (Luís e Délia) faleceram com diferença
de apenas uma semana, um não podia viver sem o outro. Délia
faleceu no dia 23 (84 anos) e Luiz (88 anos) em 30 de julho de
1996.
FINAL
Por ocasião da comemoração do centenário de nascimento
fiz uma pequena homenagem ao nosso pai (2008). Neste livro procurei
relatar a figura e o seu modo de vida.
Estas resenhas têm como objetivo principal historiar aos
nossos descentes quem foram os nossos antecessores. Espero que
estes currículos sejam preservados.
As pessoas interessadas por estes trabalhos podem solicitar
que enviarei via internet.
Caso você queira relatar outros fatos ficaria grato, relembrar
é viver. A boa saudade é salutar.
Esta homenagem para os filhos e parentes é mais do que
justa e merecida para um verdadeiro homem sob todos os pontos de
vista. A sua companheira Délia não pode ser deixada de lado e a
homenagem se estende a ela com os mesmos méritos.
O nosso obrigado pela atenção, como dizia minha irmã
Claudette "vamos em frente que atrás vem gente".
Lajopa, 2017